SÓ PRA TE QUERER
Para te querer basta que o frio assassine a flor do tempo
E de um buquê de mar tua voz sossegue a dor do vento
Para te querer basta um rio sem asas quando a ponte tropeça
E então te despes enquanto a cabine do desejo está sem pressa
Para te querer num assunto de portas com punhos e o metro
Agudo da saudade convida para um jantar sem sobrancelhas
Sem lápides ou sem cadeados ou sem porteiros tristes
E sentas à mesa ante um cardápio variado de fúrias
E te querer não tarda mais que um objeto enfurecido
Desses de arreganhar vazios depois do açoite
E te querer é cruel com suas lâminas de esquecer
Te querer é doce e se arrasta pela madrugada até
O dedão do pé que lambes com malícia de abismo
E cada lambida é um punhal sem pudores
Que avança pelo sexo até o limite do obscuro
Até que gozes toda a tortura de abandono
Te querer não tem palavras com maquiagem
Nem carícias com a entrega em ponto morto
Talvez um aborto de silêncios quebre a tara
do teu túnel de vingança que logo murcha e ferve
O que há para te amar além de soluços e pijamas?
Que sombra em tua cama sustenta o teu delírio?
Um filho com tijolos que atalhas no copo?
E que alimentas do pó que tua vaidade sopra
Por sobre as circunstâncias da tristeza
Teu corpo agora mede a distância entre o farol
E a sombra e se deixa lambuzar de naufrágios
Que a língua lava desolada até arder álacre
E aliada das conversas de tuas coxas aladas
Que vão comigo até que te amar seja o sinal
Do que se persegue com a palavra em riste
E reste mais no copo além do que se mede
E que o apetite por ti atice a ternura e o tesão
E ninguém venha entregar pedaços de memória
E que as ruas vomitem cada centavo de vício
Cada oração pelo avesso receba seu dízimo de sonho
E te querer não seja tão medonho ou quase um suicídio
Um estampido com óculos na janela do esquecimento
Te querer por um momento e te odiar entre paredes
Te odiar desse jeito de espelhos com borboletas
Te odiar com sede de chegar até o fundo do laço
E poder eriçar cada pêlo bêbado de tua lava
Levar ao orgasmo cada estrela que me olha
Extenuada e sem plano de vôo porque só tem
Por destino me ensinar a te querer e a te odiar
E a te perder quando chegas com as tintas da liberdade
E manchas com tua risada no papel o poema
Geraldo Maia
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