I

 

Diminua  a  velocidade,  Parasita,

Quero  respirar  o  ar  de  Úrsula  Maior...

Nestes  prados  e  bosques  não  há  o  pó

Que  desnutre  o  sonho  de  uma  sabedoria  infinita.

 

- Vossa  Majestade  sabe  que  o  perigo

Reina  nos  desertos  de  qualquer  imensidão,

Que  não  se  deve  fincar  os  pés  num  chão

Onde  não  se  tenha  pelo  menos  um  amigo.

 

- Eu  sou  Ameba,  Rainha  do  Cruzeiro  do  Sul,

A  atmosfera  me  rende  o  mais  fiel  respeito.

Druds  será  a  conquista  de  um  plano  perfeito,

Para  que  se  possa  entender  a  natureza  do  Planeta  Azul.

 

- Não  vejo  com  bons  olhos  essa  sua  ambição...

Desejar  conquistar  um  orbe  repleto  de  violência,

Em  que  seus  indivíduos  perderam  a  consciência

E  se  matam  entre  si  sem  a  mínima  compaixão.

 

- Estacione!  Preciso  de  contemplar  esta  paisagem,

Purificar  meu  olfato  para  uma  batalha  fria,

Confabular  com  meus  deuses  sem  a  agonia

Das  mentes  que  tentam  boicotar  minha  coragem.

 

- Druds  está  próximo,  Majestade!  Veja,  acolá!

Giárdia,  sua  irmã,  há  de  recebê-la  bem,

Afinal,  trazemos  a  inteligência  que  ela  só  tem

Quando  reconhece  que  no  Cruzeiro  do  Sul  está  seu  lar!

 

- Ótimo,  Parasita!  Ameba  desce  aqui  e  sozinha,

Não  quero  ser  interrompida  em  minha  reflexão,

O  trono  de  Druds  foi  concedido  à  Giárdia  pela  paixão

De  um  duende  e  essa  região  precisa  de  ser  minha.

 

Ameba  abandonou  os  degraus  de  sua  nave,

Pisou  firme  numa  areia  fofa,  meio  movediça,

Caminhou  atenta  entre  arbustos  que  enfeitiçam

O  pensar  maquiavélico  da  certas  personalidades.

 

Andou...  andou...  sem  mirar  seu  destino,

De  repente  viu-se  perdida  numa  estação  árida...

Sim... surpresa!  Diante  de  si  estava   Giárdia

Que  não  compreendia  a  razão  deste  desatino...

 

 

II

 

- Quê  fazes  por  aqui, donzela ?  Estás  perdida ?

Acabas  de  invadir  um  espaço  que  agora  é  meu...

O  último  intruso  que  aqui  esteve  morreu

Ferido  pela  lâmina  de  minha  espada  dourada  e  temida!

 

- Não  é  possível!  Como  conseguiste  este  feito?

Teu  exército  naufraga  na  incompetência  e  é  pobre...

Eu  sim,  sou  a  maravilha  das  galáxias,  sou  nobre

E  minhas  aspirações  são  projetos  sem  defeitos...

 

- Hum!  Quanta  arrogância  nesta  minha  irmã!

Até  se  esquece  que  não  sou  eu  a  bastarda...

A  justiça  dos  deuses  nem  falha,  nem  tarda

E  perante  minha  ótica  coloca  a  sabedoria  anã...

 

- Tu  és  a  traidora!  Deixaste-te  possuir  por  um  duende

Que  se apossou  de  ti  com  ímpetos  de  magia,

Que  te  segrega  a  saudade,  faz  de  tua  solidão  nostalgia

E  em  tua  tristeza  constrói  uma  felicidade  aparente!

 

- Como  estás  enganada!  Druds  é  o  paraíso  das  inteligências,

Lá  estão  adormecidos  os  gênios  do  Planeta  Azul,

Sei  que  é  isto  o  que  buscas  com  teus  vodus

Que  te  permitem  navegar  nos  mares  das  inconsequências!

 

- Ponho  o  passado  de  lado,  esqueço  as  ofensas

Caso  me  dês  a  ventura  de  comigo  compartilhar

Deste  santuário  que  Druds  congrega  do  mar

Da  sabedoria  terrena  que  lá  dorme  tão  intensa!

 

- Eis  que  agora  me  propões  a  seara  do absurdo!

És  minha  prisioneira,  rainha  das  horas  incertas,

Destinar-te-ei  ao  arcabouço  das  pseudo  espertas

Até  desvendar  de  ti  este  segredo  que  me  é  oculto.

Parasita  estranha  a  demora  de  sua  rainha

E  vai  à  sua  procura  pelos  bosques  desconhecidos,

Ouve  vozes  abafadas  em  seus  apurados  ouvidos

E  descobre  que  havia  chegado  ao  final  da  linha.

 

Ameba  fora  algemada  por  correntes  de  prata,

Giárdia  gargalhava  de  sua  cruel  desventura

E  a  internara  nos  porões  das  ingratidões  impuras

Para  ser  jogada  em  precipícios  de  fatais  cascatas!

 

 

III

 

Giárdia  se  concentra,  chama  pelo  seu  duende

Que  com  seu  feitiço  teria  o  poder  de  decifrar

O  silêncio  em  que  Ameba  guardava  em  seu  tear

De  mulher  astuta  e  que  a  tornava  tão  diferente.

 

O  duende  surge  perante  as  incertezas  de  Giárdia

E  mostra  em  visão  o Cruzeiro  do  Sul  tomado  pela  peste,

Giárdia  se  condói  diante  daquela  ótica  inconteste

E  vai  aos  porões  onde  aprisionava  as  desgraças.

 

- Estou  aqui  novamente,  Rainha  perversa  e  insana,

Sei  do  teu  real  propósito  nas  estradas  do  espaço,

Teu  povo  agoniza  sob  a  imprudência  dos  teus  braços

E  tu  te  aproveitas  da  ambição  e  os  deixa  na  lama!

 

- Só  em  teu  reino  há  a  esperança  da  grande  cura,

Pois,  que  lá  dormem  gênios  únicos  capazes  de  dissipar

A  enfermidade  que  grassa  em  meu  patamar

Que  são  as  inteligências  humanas  sequestradas  em  tuas  aventuras.

 

- És  aproveitadora  do  destino  de  súditos  inocentes

E  queres  juntar  o  útil  ao  agradável  em  tua  jornada,

Só  na  mente  do  homem  é  possível  tocar-se  esta  sonata

Para  pôr  um  fim  no  sofrimento  de  tua  gente.

 

- Então ?  Abre  teu  coração  para  um  povo  sofredor

E  permite-me  comigo  levar  tão  sonhado  antídoto,

Assim  ficará  provado  que  não  tens  íntimo  bandido

E  que  és  capaz  de  uma  atitude  de  amor!

 

- Falas-me  como  se  eu  desconhecesse  tua  astúcia,

Queres  não  somente  a  receita,  mas  também  meu  reino,

Mas  não  te  permitirei  pôr  os  pés  em  meu  celeiro

Nem  de  usares  da  usura  com  tua  argúcia.

 

- Livra-me  destas  correntes!  Meu  povo  tem  pressa,

Façamos  um  acordo  real  diante  de  nossos  mundos,

Ofereço-te  parte  de  minha  riquezas  de  valor  profundo

E  muito  mais  de  acordo  com  o  que  me  peças.

-Assina  este  papel  em  que  exijo  que  abdiques

Do  teu  reino  para  que  eu  possa  o  Cruzeiro  do  Sul  governar,

Depois  te  libertarei  noutras  esferas  e  erigirei  um  altar

Em  tua  honra  para  que  esquecida  do  povo  não  fiques.

 

 

IV

 

Ameba  chorou  sua  vergonha  perante  sua  assinatura  no  papel,

O  tiro  houvera  saído  pela  culatra  de  sua  ambição,

Perdera  o  reino  e  sua  dignidade  deixada  naquela  porão

Tornara  sua  vida  um  esdrúxulo  pacote  de  fel.

 

Giárdia  a  libertou  nas  dimensões  rochosas  do  nada

Onde  não  havia  sol  e  a  lua  era  apenas  um  sonho,

Parasita  soube  que  seu  destino  medíocre  e  tristonho

Era  castigo  dos  deuses  às  aspirações  desenfreadas.

 

No  Cruzeiro  do  Sul  a  epidemia  teve  um  fim

E  Giárdia  coroou-se  a  si  mesma  perante  a  multidão,

Porém  os  dias  e  as  noites  trouxeram  grande  aflição

À  Majestade  que  governava  com  austeridade  e  era  ruim.

 

Parasita  percorreu  todas  as  veredas  da  atmosfera

E  um  dia  localizou  Ameba  debruçada  num  penhasco,

Tomou-a  nos  braços  e  a  fez  reviver  passo  a  passo

Cada  centímetro  dos  desafortunados  desejos  que  havia  nela.

 

- Levar-te-ei  a  uma  audiência  com  Amarelão

Que  se  tornou  rei  em  Úrsula  Menor  recentemente,

Trava  com  ele  um  pacto  que  seja  decente,

Porque  teu  povo  sarou,  mas  vive  em  constante  insatisfação.

 

- Tenho  planos  que  farão  Giárdia  cair num  abismo

E  teu  cetro  emoldurará  outra  vez  tua  cabeça.

Contudo  é  fundamental  que  sejas  humilde  e  não  te  esqueças

Que  depois  de  tudo  consumado  quero  que  cases  comigo!

 

Ameba  sorriu  sedutora  e  prometeu  consentimento,

Casar-se-ia  com  Parasita  e   faria  uma  festança,

Todavia  antes  necessitaria  de  empunhar  sua  lança

E  destinar  Giárdia  para  sempre  ao  rio  dos  tormentos.

 

Amarelão  recebeu  Ameba  com  intensa  pompa

E  a  fez  sentir-se  Majestade  diante  de  sua  dinastia,

Pedia  à  Tênia,  sua  secretária,  que  anotasse  com  euforia

Todos  os  detalhes  de  um  acordo  que  a  deixou  tonta...

 

Parasita  iniciou-se  na  execução  dos  seus  planos

E  se  passou  por  enamorado  pela  secretária  de  Giárdia, Bactéria,

Assim  desvendou  sigilos  que  seriam  a  futura  miséria

Daquele  reino  apócrifo,  covarde  e  deveras  desumano...

V

 

Epílogo

 

 

Amarelão  contatou  Giárdia  e  sugeriu  negócios,

Ela  o  visitou  em  Úrsula  Menor  sem  nada  desconfiar,

Pôs  sua  assinatura  em  pactos  de  noites  sem  luar

E  em  dias  de  sol  azedo  para  desfrutar  do  ócio.

 

Imensas  dívidas  Giárdia  contraiu,  com  efeito,

E  Parasita  roubou  segredos  com  falsos  beijos,

Bactéria  lhe  entregou  as  chaves  de  todos  os  espelhos

E  o  Cruzeiro  do  Sul  caía  diante  de  objetivos  perfeitos.

 

Dia  após  dia  os  cofres  de  Giárdia  ficavam  vazios

E  até  sua  coroa  de ouro  teve  de  ser  penhorada,

De  repente  se  toca  que  não  possuía  mais  nada

E  o  povo,  com  fome,  causava  em  si  fortes  arrepios.

 

Grande  tumulto  assanhava  a  população  em  frente  ao  castelo

E  uma  chuva  de  pedras  quebrava  das  janelas,  os  vitrais...

Exigiam  alimentos  e  como  selvagens  e  famintos  animais

Invadiram  aquele  palácio,  mas  só  encontraram  farelos.

 

Giárdia  fugira  atônita  em  busca  de  socorro

Chegando  em  Úrsula  Menor  à  procura  de  Amarelão,

Foi  surpreendida  por  Ameba  que  cantava  no  salão

A  sua  desdita  em  labaredas  de  alto  fogo!

 

Tentou  dali  escapulir,  no entanto  foi  presa  por  correntes  de  aço

E  levada  sem  piedade  ao  rio  de  todos  os  tormentos,

O  duende  apareceu  e  disse  ter  modificados  os  sentimentos

Porque  fora  vencido  pela  decepção  e  pelo  cansaço...

 

Ameba  foi  ovacionada  pela  alegria  do  seu  povo

E  subiu  ao  trono  distribuindo  felicidade  e  fartura,

Sede  de  amar  era  agora  o  lema  de  sua  aventura

E  transformar  seu  reino   para  tudo  parecer  lindo  e  novo!

 

Amarelão  segurou  a  mão de  Ameba  levando-a   ao  altar,

Tênia  empurrou  Parasita  para  bem  diante  dos  deuses,

Partiram  rumo  à  lua  de  mel  debaixo  dos  adeuses

Que  acenavam  ventura  para  as  conquistas   de  além-mar!

 

Por  herança  Druds  caiu  sem  equívocos  em  suas  mãos

E  o  Planeta  Azul  trouxe  em  si  o  doce  devaneio

De  adquirir  o  conhecimento  humano  que  veio

Ratificar  a  metamorfose  que  se  operara  em  seu  coração!

 

 

FIM

 

 

 

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